António Pires de Azevedo Loureiro e
Manuel Pires de Azevedo Loureiro
A Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar tem no final a assinatura de António Pires de Azevedo Loureiro. Mas este nome é muito parecido com o dum seu contemporâneo e de tenebrosa memória na Arquidiocese de Braga, que foi o vigário capitular Manuel Pires de Azevedo Loureiro. Tentámos saber a relação que existia entre os dois.
Ao falar de Moreira (Nelas), escreve-se na Wikipédia o seguinte:
Motivo de orgulho para os habitantes desta freguesia, é o nascimento em Moreira de Baixo de Manuel Pires de Azevedo Loureiro e António Pires de Azevedo Loureiro, figuras que se destacaram eclesiasticamente, tendo ambos sido bispos de Beja e estiveram envolvidos no cisma religioso de 1832-1842.
Embora se não afirme aqui que eram irmãos, deviam ser. O Manuel foi de facto bispo de Beja, mas o António não. Basta consultar a lista dos bispos daquela diocese.
Os historiadores da Igreja são muito duros com Manuel Loureiro e justamente. Vejam-se sobre ele alguns parágrafos de Fortunato de Almeida na História da Igreja em Portugal, vol. III:
Por carta régia de 2 de Abril de 1834 foi insinuado ao cabido [bracarense] que elegesse vigário capitular o Dr. Manuel Pires de Azevedo Loureiro [na altura nomeado pelo governo administrador temporal da diocese], prior da freguesia de Santo André de Lisboa, o qual efectivamente foi eleito no dia 15, apesar das observações feitas por alguns cónegos sobre a ilegitimidade de tal acto.
Loureiro ia precedido da fama, talvez adrede improvisada, de homem recto e probo; “mas ele – diz um contemporâneo – encobria, com a capa de bondade, as mais desordenadas e destruidoras bases da sã moral, como pouco tempo depois se fizera patente”. Era o mesmo Azevedo Loureiro que diversas vezes temos encontrado em nossa narrativa como instrumento cego do poder secular na invasão da esfera eclesiástica.
O governo de Loureiro de Azevedo em Braga foi uma série de prepotências e atropelos, em que nem ao menos se procurava salvar as aparências. No dia imediato àquele em que pela primeira vez entrou no paço arquiepiscopal, e antes de reunir o cabido para lhe conferir, embora contra direito, a jurisdição canónica, Loureiro chamou o secretário da câmara eclesiástica, Padre Custódio José de Araújo, a quem pediu todos os requerimentos que estivessem aguardando despacho. Poucas horas depois estavam expedidos todos os negócios pendentes. Suspendeu todos os clérigos que se tinham alistado no batalhão eclesiástico, e em seguida muitos outros por os considerar desafectos ao partido constitucional. Concedeu dispensas matrimoniais, sujeitas a multas a seu arbítrio impostas, e cujo produto se destinava a obras de beneficência, tudo em conformidade com os decretos de 1834. Em execução do decreto de 9 de Agosto de 1833, extinguiu os conventos de S. Frutuoso e Tibães.
Mais adiante, 23 de Dezembro de 1835, Manuel Loureiro coloca António Loureiro como seu substituto. Mas é um ano antes (19 de Dezembro de 1834) que se conclui a Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar.
Manuel Loureiro tinha ainda um longo caminho até chegar… a Bispo de Beja, por três anos.
Na citação de Fortunato de Almeida falava-se do Batalhão Eclesiástico. Tratou-se dum batalhão composto de eclesiásticos, organizado por ordem do Vigário Capitular D. António da Cunha Reis, para manter a ordem em Braga, porque a força militar miguelista, à chegada das forças liberais, havia retirado para os acampamentos. Era comandante o Provisor do arcebispado e Arcediago de Barroso na Sé Primaz o Dr. José Firmino da Cunha Reis (Mons. José Augusto Ferreira).
De acordo com o P.e Silos, o pároco de Balasar Manuel José Gonçalves da Silva foi provido em 1833 e expulso em 1834. Como ele era muito jovem e Mestre de Moral em Braga, não é impossível que tenha sido também membro do Batalhão Eclesiástico. Mas pelo menos, quase de certeza, foi vítima dos saneamentos do vigário Manuel Loureiro. A data do último e único assento que ele escreveu nos livros de Balasar é contemporânea de tais saneamentos (30 de Abril de 1834). De facto o Mons. José Augusto Ferreira, ao referir os desmandos já assinalados por Fortunato de Almeida, nas suas Memórias para a História dum Cisma e nos Fastos Episcopais da Sé Primacial de Braga, menciona explicitamente “a demissão de muitos párocos e cónegos bem como a suspensão de outros".
Na imagem: Manuel Loureiro como bispo de Beja.
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